No dia 24 de outubro, a guerra na Ucrânia entrará em seu oitavo mês. No total, são oito meses de surpresas, crueldades e desumanidades. Em fevereiro, quando o conflito começou, não era possível imaginar que o segundo maior exército do mundo enfrentaria tanta resistência. De moral elevada e armamento novo fornecido pela OTAN, os ucranianos têm não apenas repelido a invasão, como reconquistado áreas tomadas pelos russos.
Foi em resposta aos recentes avanços de Kiev, que o presidente russo convocou cerca de 200 mil reservistas para combater na Ucrânia. A convocação não apenas gerou protestos nas maiores cidades russas, como gerou longas filas de automóveis na direção das fronteiras. O governo chegou a proibir que passagens aéreas fossem vendidas a homens em idade militar. A Duma, o parlamento russo, aprovou uma lei que pode condenar a até 15 anos de prisão os críticos das ações militares russas. Para aqueles que se recusarem a lutar ou desertarem, a pena é de 10 anos de reclusão. Nesse contexto, os russos realizaram referendos de anexação nas regiões em disputa de Donetsk, Luhansk, Zaporizhzhia e Kherson. Buscando “ouvir a vontade da população de tornar-se parte da federação russa”, os referendos obviamente fraudados tiveram resultados pró-Moscou.
Nessa escalada de tensões, vieram as ameaças nucleares: Putin, Sergey Lavrov – ministro das Relações Exteriores, Dmitri Medvedev – vice-presidente do Conselho de Segurança da Rússia e várias outras autoridades reforçaram que o uso de armas de destruição em massa é factível. O que inicialmente parecia um recado ao Ocidente, tem se tornado uma possibilidade próxima. Com mais de seis mil armas nucleares em seu arsenal, a Rússia pode lançar esse tipo de ataque se considerar que a sobrevivência do país está em jogo. O uso mais provável é das chamadas “armas nucleares táticas”, de menor potencial ofensivo e destinada a alvos específicos como cidades, batalhões ou bases militares.
Aliada fiel da Rússia, Belarus está deslocando mais de 70 mil homens para a fronteira com a Ucrânia. Ainda que Lukashenko afirme que não irá tomar parte na invasão, foi a partir de seu país que tropas russas tentaram tomar Kiev – o que segue sem ocorrer.
O que de fato aconteceu foi a maior crise de refugiados e de crimes de guerra na Europa desde o final da Segunda Guerra Mundial. Investigadores das Nações Unidas já confirmaram que esses crimes existiram, e os recentes bombardeios a áreas civis, assim como as imagens de civis mortos com mãos amarradas às costas na cidade de Kherson, apenas confirmam o que já se sabia. Com a destruição de parte da ponte que ligava a Rússia à Crimeia, ocorrida no sábado, dia 8 de outubro, esses atentados e bombardeios a áreas civis se intensificarão, sob a sombra da ameaça nuclear. É mais uma demonstração não apenas do pouco apreço de Putin à vida humana, mas de sua disposição em levar essa guerra até as últimas e mais nefastas consequências.
*João Alfredo Lopes Nyegray, doutor e mestre em internacionalização e estratégia, especialista em Negócios Internacionais. Advogado, graduado em Relações Internacionais, é coordenador do curso de Comércio Exterior na Universidade Positivo. Instagram @janyegray.
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